sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

APAGÃO DE PROFESSORES

 


maioria dos estudantes de licenciatura desiste da carreira docente antes da formatura

futuro da educação básica está ameaçado pela falta de professores. Ao menos 58% dos alunos de cursos de licenciatura, destinados à formação docente, abandonaram a universidade antes de receber o diploma, revela o Censo da Educação Superior de 2022, o mais recente levantamento sobre o tema divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, o Inep, vinculado ao Ministério da Educação. Esta é a maior taxa de desistência da década. Se a tendência persistir, em apenas 15 anos o ­País não terá profissionais suficientes para lecionar na educação básica. O apagão revela-se ainda mais grave no segundo ciclo do ensino fundamental e no ensino médio, cujos alunos mais pobres passarão a receber uma bolsa-permanência criada pelo governo Lula. E também em áreas do conhecimento específicas, como física, matemática e química.

Nas universidades públicas, 26,4% das vagas nesses cursos permanecem ociosas


Segundo o Censo, a precarização da formação profissional também aumentou nos últimos anos. Hoje, a maioria das matrículas concentra-se na educação a distância, presente em mais de 3,2 mil municípios brasileiros. Em 2022, os alunos inscritos em cursos de licenciatura EAD representavam 81% do total. Quando consideradas apenas as instituições privadas, a proporção era ainda maior: 94%. Se, por um lado, é positivo democratizar o acesso ao ensino superior e levá-lo aos rincões do País, por outro, é quase inexistente o controle de qualidade desses cursos. Com professores mal capacitados, dificilmente seus alunos terão um desempenho brilhante.


O explosivo aumento das matrículas EAD e o reduzido número de professores que lecionam nessa modalidade – em 11 universidades, a proporção é superior a 500 alunos por docente – acenderam um sinal de alerta no MEC. “Estou bastante preocupado com a qualidade desses cursos. É claro que eles facilitam muito a vida do trabalhador, que não precisa mais se deslocar para a faculdade, mas temos de avaliar que tipo de curso pode ser ofertado a distância, zelando pela boa formação do profissional”, afirmou o ministro Camilo Santana ao comentar os dados do Censo.

Secretária responsável pela área de saúde laboral na Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação, a CNTE, a professora Francisca Pereira da Rocha Seixas alerta que as más condições de trabalho, a instabilidade profissional e a falta de um plano de carreira têm afetado diretamente a saúde mental dos profissionais da área. “Por mais que tenham acontecido alguns avanços nos últimos tempos, como a aprovação do piso nacional para a categoria, não há atrativos na profissão”, explica. Segundo a especialista, no estado de São Paulo, as principais causas de afastamento de professores atualmente estão ligadas à estafa, burnout, síndrome do pânico, depressão e ansiedade. “As condições desfavoráveis que nós vivemos, principalmente pela desvalorização profissional, têm levado a essa desistência enorme. As pessoas simplesmente não aguentam.”

Seixas também denuncia a precarização nas contratações e as crescentes denúncias de assédio moral. Em São Paulo, grande parte dos professores da rede pública possui contratos temporários, pois o governo paulista se recusa a abrir novos concursos. Os profissionais da chamada “Categoria O” estão na base da pirâmide: recebem remunerações menores, não têm os mesmos direitos dos concursados, não contam com plano de carreira, com aumento progressivo de salário, e ainda se sentem inseguros para denunciar as más condições de trabalho. “Com a pandemia de Covid-19, muitos problemas que já existiam se aprofundaram. Aumentou a evasão escolar, ocorreu um atraso educacional, e isso tudo traz novas dificuldades para o professor lidar em sala de aula. Além disso, sabemos que na maioria dos estados e municípios, a cobrança por um bom desempenho dos alunos é desproporcional às condições de trabalho oferecidas aos docentes.”

Heleno Araújo, presidente da CNTE, diz estar muito preocupado com o atual cenário, no qual mais de 60% dos professores em atividade no País atuam com contratos temporários. “Essa alta desistência também é fruto do descaso e da violência institucional promovida pelo Estado brasileiro.” A Constituição, afirma o dirigente sindical, assegura que o magistério deve ser desempenhado por profissionais selecionados em concursos públicos. No entanto, a maior parte dos estados e municípios têm optado pelas contratações temporárias. “Essa precariedade permite o pagamento de salários abaixo do piso”, denuncia Araújo.

O presidente da CNTE acredita, porém, ser possível reverter esse quadro e valorizar a carreira docente, desde que haja vontade política. Para isso, o primeiro passo deve ser a ampliação dos concursos públicos. “Todo o quadro de pessoal dentro da escola precisa ser concursado, do porteiro ao diretor da escola. Isso é fundamental para garantir a estabilidade desses profissionais e atrair o interesse dos mais jovens.”

Atualmente, a desistência nos cursos de licenciatura só é menor entre os estudantes beneficiados por alguma política pública de inclusão no ensino superior. Enquanto a taxa geral de abandono gira em torno de 58%, como relatado no início da reportagem, entre os alunos do ProUni o porcentual é de 40% e, entre os contemplados pelo Fies, de 49%. 

Fonte: Carta Capital 

https://www.cartacapital.com.br/politica/apagao-de-professores/amp/


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