A educação brasileira vive um paradoxo cruel: enquanto se proclama aos quatro ventos que ela é a base do desenvolvimento, os profissionais que a sustentam seguem sendo tratados como peças descartáveis. A projeção de reajuste de apenas 0,85% no piso salarial nacional dos professores para 2026 é mais do que decepcionante é um sinal claro de que o discurso oficial não se traduz em compromisso real.
Como professor, não posso aceitar que minha profissão seja reduzida a números que mal cobrem a inflação. Esse índice representa uma perda real de poder de compra, um retrocesso que ignora completamente os desafios enfrentados por quem está na linha de frente da educação pública. Salas superlotadas, falta de recursos, violência escolar, pressão por resultados e jornadas exaustivas são parte do cotidiano. E, diante disso, o que se oferece? Um reajuste simbólico, quase irônico.
A Lei do Piso (11.738/2008) foi criada para garantir valorização, não para ser reinterpretada conforme conveniências orçamentárias. Se o Fundeb aponta queda no valor por aluno, por que não discutir uma nova fórmula que assegure ao menos a reposição da inflação? Por que não incluir ganho real, como forma de reconhecer o papel estratégico do magistério?
A verdade é que sem valorização docente, não há educação de qualidade. Não adianta investir em tecnologia, infraestrutura ou currículo se o professor continuar sendo o elo mais frágil da cadeia. A evasão de profissionais qualificados da rede pública é crescente, e não é por acaso. É resultado direto da falta de reconhecimento financeiro, social e institucional.
Reajuste de 0,85% não é política pública. É política de abandono.
Se queremos um país mais justo, mais desenvolvido e mais preparado para o futuro, precisamos começar por quem ensina. E isso exige coragem política, prioridade orçamentária e, acima de tudo, respeito.
Nenhum comentário:
Postar um comentário