Pensar a ética do cuidado na escola significa pressupor a presença da deficiência e não
a ausência. A ética do cuidado deve atravessar os planejamentos, os projetos pedagógicos, a elaboração dos currículos, os eventos, etc, independentemente de haver estudantes com deficiência.
Uma sociedade inclusiva é aquela que parte da ética do cuidado enquanto um princípio
balizador das relações, que caminha rumo aos dez princípios da justiça social e promove as lutas anticapacitistas visando a promoção de participação e representação para todas as expressões de corporalidades. Um grupo de ativistas do campo da deficiência que tem contribuições importantes para as lutas anticapacitistas é o Movimento Sins Invalid, o qual está comprometido com a justiça social e econômica para todas as pessoas com deficiência – em confinamentos, em abrigos, nas ruas, deficientes visuais, deficientes invisíveis, minorias sensoriais, feridos ambientais, sobreviventes psiquiátricos – indo além dos direitos legais individuais para abranger também os direitos humanos coletivos. As histórias dos integrantes, embutidas na análise, oferecem caminhos da política de identidade à unidade entre todas as pessoas oprimidas, estabelecendo as bases para uma reivindicação coletiva de libertação e beleza.
Neste sentido, eles sugerem 10 princípios que estão de acordo com a luta anticapacitista, os quais apresentaremos na sequência.
Entendemos que a experiência da deficiência ocorre em qualquer e todas as esferas da
vida, com conexões profundas com todas as comunidades impactadas pela medicalização de seus corpos, incluindo pessoas trans, variantes de gênero e intersexo, e outros cujos corpos não estão em conformidade com nossa cultura (s) ‘noções de “normal” ou “funcional”. (BERNE, 2018)
- Interseccionalidade – Percebam, um homem branco com deficiência, ao mesmo tempo que ocupa um lugar que lhe confere algum privilégio – de ser homem branco, ainda assim, por ser pessoa com deficiência pode experienciar a opressão, o preconceito e a discriminação.
- Liderança dos mais impactados – Pessoas com deficiência, autismo, síndromes raras, entre outras, devem ocupar espaços de liderança, a experiência vivenciada pode ser um elemento de potência nas escolhas de estratégias para combater o capacitismo ea invisibilidade que constantemente atravessam suas vidas.
- Políticas anticapitalistas – O produtivismo é um grande aliado do capacitismo. As atitudes produtivistas delegam a algumas pessoas um lugar de segunda classe, de subalternização. Precisamos caminhar rumo à consolidação de uma sociedade em que cada pessoa seja valorizada, independente de qual seja a sua contribuição nesta cadeia produtiva.
- Solidariedade entre movimentos – uma política de frente única – Os movimentos das pessoas com deficiência precisam se fortalecer em uma aliança, não só no campo da deficiência, mas com demais movimentos, tais como LGBTQI+, feminista, racial, etc, para que não hajam políticas atentas a determinados grupos, mas que ainda excluam outros.
- Reconhecendo a totalidade – pessoas com deficiência são pessoas inteiras – Não é à toa que o movimento escolheu o termo “pessoas com deficiência”, pois todos/as são pessoas completas, com escolhas religiosas, territórios distintos, expressões culturais diversas, desejos, orientação sexual, enfim, uma sociedade atenta às diferenças deve respeitar a totalidade de cada sujeito.
- Sustentabilidade – Para que tenhamos um futuro com autonomia e respeito pelo envelhecimento, precisamos atuar no presente, seja na eliminação de barreiras ou construindo possibilidades de participação para todos, mesmo que seja agindo de modo individual.
- Compromisso com a solidariedade entre as pessoas com deficiência – Há necessidade de extrapolar o limite dos diagnósticos e compreender a experiência da deficiência na sua multiplicidade. Também se faz necessário romper com o isolamento a que muitas pessoas são submetidas, ampliando a compreensão de que há um lugar comum que são as experiências de opressão e violência que as pessoas com deficiência vivenciam.
- Interdependência – O isolamento é nocivo, nenhuma pessoa é realmente completa se não nas relações com outras pessoas. A interdependência é uma condição para a vida em sociedade, a aprendizagem, a alimentação, a produção de energia, tudo nos revela a necessidade do coletivo, das relações com outras pessoas.
- Collective Access– Acesso Coletivo – As necessidades de acesso não são vergonhosas – todos nós temos várias capacidades que funcionam de forma diferente em vários ambientes. As distintas expressões corpóreas precisam ser contempladas nos espaços, a exemplo de banheiros para pessoas com nanismo, deficiência física, espaços para higiene de pessoas com colostomia, ou para pessoas intersexo e trans. Nos espaços de aprendizagem, faz-se necessário a criação de ambientes pedagógicos que acolham esses corpos e que permitam a livre circulação com os distintos modos de se locomover e as distintas expressões do que aprendeu e como aprendeu.
- Libertação coletiva – nenhum corpo / mente deve ser deixado para trás – A verdadeira liberdade ocorrerá quando todas as pessoas sejam respeitadas e valorizadas a partir das suas singularidades, em que nenhuma das suas características seja motivo para discriminação, preconceito, descredibilidade ou atitudes capacitistas.
- Fonte: https://educadiversidade.unesp.br/guia-para-praticas-anticapacitistas-na-universidade/#E_no_ambiente_escolaracademico_como_isso_se_aplica:~:text=Pensar%20a%20%C3%A9tica,ou%20atitudes%20capacitistas.
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