sexta-feira, 8 de agosto de 2025

O Desafio de Viver o Capacitismo Institucional na Educação Pública

 


Adquirir uma deficiência já é, por si só, um terremoto na vida de qualquer pessoa. Quando isso acontece com um professor da rede pública, o impacto é duplo: além de enfrentar as mudanças físicas, emocionais e sociais impostas pela nova condição, é preciso sobreviver ao monstro silencioso chamado capacitismo institucional.

Ele não grita, não bate na porta, não se apresenta,  mas se infiltra nas reuniões pedagógicas, nas portarias mal pensadas, nas mudanças “administrativas” que, na prática, são estratégias para empurrar o profissional para a margem. É o olhar de dúvida sobre sua capacidade, a recusa sutil em oferecer adaptações, o silêncio diante das suas necessidades.

O capacitismo institucional não se limita a preconceitos individuais: ele é reforçado por normas, procedimentos e omissões que tratam a inclusão como um favor e não como um direito. O professor que retorna ao trabalho após um AVC descobre que, mais do que lutar pela própria reabilitação, terá de lutar contra a tentativa velada de invalidar a sua carreira.

As barreiras não estão apenas na  estrutura física das escolas. Estão também na falta de políticas claras de readaptação, na resistência de gestores em compreender que produtividade não é sinônimo de número de aulas dadas, quando o gestor  evitar  dialogar e na  insistência em ignorar que um corpo com limitações ainda carrega uma mente plenamente capaz.

Não é fácil viver essa realidade. Mas é preciso denunciá-la. Porque cada professor que é silenciado ou afastado injustamente representa não apenas uma injustiça individual, mas um recado perigoso: a educação pública só acolhe a diferença no discurso, não na prática.

Enquanto a inclusão for tratada como uma bandeira bonita para eventos e não como uma estrutura sólida para o dia a dia escolar, o capacitismo institucional continuará vencendo — e a educação continuará perdendo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

PISO SALARIAL NACIONAL DOS PROFESSORES: Reajuste de 0,85% para professores em 2026? Isso é descaso

  A  educação brasileira vive um paradoxo cruel: enquanto se proclama aos quatro ventos que ela é a base do desenvolvimento, os profissiona...