Após quase 23 anos atuando como professor na rede pública de ensino, aprendi que planos educacionais não mudam a realidade por decreto eles precisam de chão, escuta e compromisso. O novo Plano Nacional de Educação (PNE) 2024–2034, aprovado recentemente, chega com metas ambiciosas e discursos esperançosos, mas também carrega silêncios e riscos que merecem atenção crítica, especialmente para quem vive a educação pública na ponta.
Metas ousadas, mas e a execução?
O plano propõe 19 metas que vão da educação infantil ao ensino superior, passando pela valorização docente e expansão da educação técnica. Em teoria, é um avanço. Na prática, porém, paira uma dúvida incômoda: como garantir que essas metas não se tornem apenas papel?
No Brasil, enfrentamos desafios estruturais como falta de creches suficientes, escolas com acessibilidade precária e escassez de recursos para formação continuada, o PNE parece distante da realidade cotidiana. A meta de universalizar a pré-escola e ampliar a oferta de creches, por exemplo, exige investimentos que o município sozinho não consegue arcar. E o plano, embora mencione financiamento, não detalha como os recursos chegarão às cidades médias e pequenas.
Inclusão: promessa ou retórica?
Como defensor da inclusão de pessoas com deficiência, esperava que o novo PNE trouxesse avanços concretos. Há menções à educação bilíngue para surdos e à formação de professores para lidar com a diversidade, mas o texto ainda trata a inclusão como um apêndice, não como eixo estruturante.
Na educação brasileira, temos estudantes com deficiência que enfrentam barreiras físicas, pedagógicas e atitudinais todos os dias. Sem políticas claras de formação docente, sem investimento em tecnologia assistiva e sem diálogo com as famílias, a inclusão corre o risco de continuar sendo um ideal bonito, mas distante.
Financiamento: a corda no pescoço dos municípios
O relator do PNE estima que serão necessários R$ 280 bilhões para sua execução. Mas quem conhece a realidade nos municípios brasileiros sabe que, sem um pacto federativo que garanta repasses justos e contínuos, os municípios ficarão com a corda no pescoço. O plano exige muito, mas oferece pouco em termos de segurança orçamentária.
Onde está a escuta?
Outro ponto crítico é a forma como o plano foi construído. Apesar de consultas públicas e audiências, muitos professores da rede básica — especialmente os da rede municipal não se sentiram ouvidos. A sensação é de um plano feito de cima para baixo, com pouca escuta das realidades locais.
Conclusão:
O novo PNE é uma oportunidade, sim. Mas também é um alerta. Para que ele não se torne mais uma carta de intenções, precisamos de mobilização, fiscalização e, acima de tudo, escuta ativa das vozes que fazem a educação acontecer como a dos professores da rede pública que há décadas sustentam a escola pública com coragem e compromisso.
Se você também acredita que inclusão não é favor, mas direito, e que educação se faz com diálogo e investimento, este é o momento de cobrar, propor e participar.

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