Na Roma Antiga, Júlio César percebeu que manter o povo satisfeito era mais fácil quando se oferecia pão e espetáculo. O Coliseu tornou-se o grande palco dessa estratégia: gladiadores, corridas e festas públicas serviam para distrair a população das tensões sociais e políticas. O resultado era uma sociedade entretida, mas pouco crítica, incapaz de questionar os rumos do Império.
Séculos depois, a lógica do panem et circenses continua viva, apenas com novos cenários. Hoje, muitos profissionais que deveriam ser protagonistas na construção de uma consciência crítica professores, jornalistas, artistas, cientistas acabam se deixando levar por eventos que nada acrescentam à luta por seus direitos. Em vez de reivindicar melhores condições de trabalho, salários justos ou liberdade de expressão, participam com entusiasmo de cerimônias e celebrações que servem apenas para enaltecer políticos e reforçar a imagem positiva de quem está no poder.
Essa empolgação, muitas vezes inconsciente, transforma profissionais em figurantes de um espetáculo político cuidadosamente montado. O pão e circo moderno não se dá mais em arenas de pedra, mas em palcos, auditórios e transmissões ao vivo, onde o brilho das luzes e o discurso populista substituem o debate real sobre educação, saúde, cultura e ciência.
O perigo é claro: quando aqueles que deveriam questionar se tornam parte do espetáculo, a sociedade perde sua voz crítica. O povo, assim como na Roma Antiga, é convidado a aplaudir em vez de refletir.
Se não houver uma mudança de postura, corremos o risco de repetir a decadência romana: uma sociedade que se entretém enquanto seus pilares se corroem. O desafio é despertar a consciência desses profissionais, lembrando que sua força não está em legitimar políticos, mas em lutar por direitos e em inspirar a população a pensar além do espetáculo.
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